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5 de abr. de 2012

Carangola: um caso de amor com a Rua Pedro de Oliveira


Todas as cidades possuem locais que seus habitantes carregam no coração. Locais estes que fazem parte de seu cotidiano, de seus sonhos e memória. Pode ser uma simples rua, uma praça, jardim, parque ou uma extensa avenida. O que importa é que grandes acontecimentos marcam a trajetória de um lugar. É para onde a atenção de toda a cidade converge. Eis aí, o centro. Em Carangola, este local sem dúvidas é a Rua Pedro de Oliveira, que encaminha seus “viajantes” até a Praça Coronel Maximiano. Esta é a rua que traz em sua alma os momentos primordiais da história carangolense; é testemunha viva da evolução dos tempos e de seus moradores. Parafraseando Castro Alves, a rua, assim como a praça, é do povo, como o céu é do condor. Vamos relembrar, com a colaboração do Professor de História, Rogério Carelli, os acontecimentos registrados na velha Rua Pedro de Oliveira.
Desde o início do povoamento da região onde seria erguida a cidade, foi estabelecida esta rota paralela ao Rio Carangola. Quando o povoado ainda pertencia ao Município de São Paulo do Muriahé (atual Muriaé), esta rota recebeu o nome de Rua de Cima. Logo após a emancipação política, em 1882, foi batizada de Rua Municipal, nome que perdurou até a Proclamação da República, em 1889. No dia 19 de novembro daquele ano, foi renomeada para Rua XV de Novembro, data em que os republicanos derrubaram a Monarquia no Brasil. Em 1932, por razão do falecimento do então Presidente de Minas Gerais, Olegário Maciel, a rua passou a se chamar Rua Olegário Maciel. Mas, popularmente e carinhosamente, continuou sendo a famosa Rua XV. A atual nomenclatura foi dada no ano de 1949, em homenagem ao então Prefeito de Carangola, Pedro de Oliveira, que faleceu no exercício do cargo enquanto fiscalizava uma obra. A comoção popular foi muito grande e o Vice-Prefeito, Jonas Marques, ao ser empossado no cargo de mandatário do município, não se esqueceu de seu companheiro.
A primeira iluminação pública da Rua Pedro de Oliveira foi instalada em torno de 1887, através de lampiões que queimavam óleo de baleia, financiados pelos comerciantes. Em 1901, foram colocados lampiões à gás e, finalmente, em 1914, a rua e a cidade de maneira geral foram contemplados com a iluminação elétrica. Em 1910, recebeu um calçamento provisório de pedras toscas, numa iniciativa do jornalista Antonio Themudo. A atual pavimentação que está sendo retirada é datada de 1922, quando o administrador municipal, Coronel Adolpho Euzébio de Carvalho, pavimentou o centro da cidade com paralelepípedos.
Esta principal artéria de Carangola, sobretudo do trecho entre o Hotel Central e a Praça Coronel Maximiano, concentrou os principais acontecimentos. Os tradicionais passeios, denominados de footing, movimentaram a Rua XV, no período de 1935 a 1970. Dois cinemas compuseram o cenário da rua: o Cine Theatro São João (1911-1932) e o Cine Brasil, inaugurado em 1941. O renomado Clube Carangola (1933-1966) e seus disputados bailes agitavam a vida social da época, que era somado aos cinco importantes bares que funcionavam naquela região: Bar do Zé Pedro Hosken, A Branca de Neve, Bar do Giriza, Leiteria Paiva, Café Rio Branco e o Café Guarany, sendo que este último ostentava a fama de ser o maior bar da Zona da Mata Mineira.
A construção da maioria das casas da Rua Pedro de Oliveira se deu por volta de 1930. O primeiro prédio da Prefeitura Municipal de Carangola, que funcionava em conjunto com a cadeia pública, era localizado onde hoje é a Snob Calçados. O segundo prédio do Fórum Municipal era onde atualmente é o Banco Itaú. Na parte cultural, esta rua abrigou a sede do periódico Gazeta de Carangola. O ponto comercial mais valorizado da cidade sempre abrigou importantes lojas e agências bancárias, tais como o Banco Hipotecário e Agrícola, Caixa Econômica Estadual, Banco do Brasil, BEMGE, Bradesco, e os dois remanescentes, a Caixa Econômica Federal e o Banco Itaú.
No aspecto político, registra-se que durante a Revolução de 1930 o quartel general foi montado no atual Hotel Central e também em cima da sede do extinto Clube do América. Em 1934, o Governador Benedito Valadares foi recepcionado por uma multidão na Rua Pedro de Oliveira, local preferido pelos políticos para seus comícios. Até os dias de hoje os candidatos percorrem os estabelecimentos ali existentes em busca de eleitores. Em 1950, o candidato a Presidente do Brasil, Brigadeiro Eduardo Gomes, visitou Carangola em campanha eleitoral.
Em 1945, foi realizado o Desfile dos Expedicionários, reunindo os 38 pracinhas da região que retornavam da II Guerra Mundial. Os desfiles comemorativos do Dia da Independência sempre ocorreram na Rua Pedro de Oliveira, que reverenciou também paradas militares, desfiles de festa do café, corridas de bicicletas, e de garçons, procissões com milhares de fiéis carregando as imagens de seus santos e a Cruz da Jornada Mundial da Juventude.
Ela, que já permitiu o trânsito de veículos nos dois sentidos, traz em sua raiz o carnaval carangolense. Desde os primórdios, a festa atingia seu ápice na descida da Rua Pedro de Oliveira, e atualmente, ela auxilia para escoar o trânsito durante a noite, quando a Avenida Antonio Marques fica interditada para que os foliões possam brincar o carnaval. Mas é do carnaval que ali era realizado que se tem saudade. Dos antigos corsos, das animadas e organizadas escolas de samba e do empolgante Bloco Tá Quem Guenta descendo a rua.
Em 2012, a modernidade convidou a velha e querida Rua Pedro de Oliveira a vivenciar um novo desafio, o de se tornar verdadeiramente um calçadão público. Ela está recebendo a missão de renovar a vida social em Carangola, propiciando aos pedestres a oportunidade de caminhar com maior segurança e conforto pela rua mais charmosa da cidade. As famílias poderão voltar a desfrutar de horas agradáveis em seus passeios, visitar vitrines, bares e lanchonetes para depois chegar pacientemente à Praça Coronel Maximiano. O estado de espírito dos carangolenses é que dirá se o calçadão será bom ou não. O calçadão e a rua são do povo, não têm dono. Se o povo acreditar que esta modernidade será boa, ela assim será, e a Rua Pedro de Oliveira nunca será mais a mesma.   

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